Um tapinha dói, sim

Mais comum do que se imagina, a palmada deseduca. Conversar é o melhor, sempre

Trechos do artigo "Um tapinha dói, sim", de Deborah Kanarek. Ilustração Ricardo Dantas
A palmada é um recurso utilizado em todas as classes sociais. "Em 99% dos lares brasileiros, as crianças já levaram pelo menos uma palmada na vida", diz o psicólogo Cristiano da Silveira Longo, que defendeu uma tese na Universidade de São Paulo (USP) sobre punição corporal doméstica de crianças. Em enquete respondida por 640 pais no site de CRESCER, 52% disseram conversar com o filho na hora de uma punição, mas, na ausência de resultados, apelam para a palmada. Outros 35% conversam e, se não surtir efeito, colocam de castigo. Apenas 12,7% não lançam mão nem de castigos nem palmadas. No livro Mania de Bater, as psicólogas Maria Amélia Azevedo e Viviane Nogueira de Azevedo Guerra realizaram uma ampla pesquisa com 894 crianças de diversas classes sociais. Mais de 50% das crianças revelaram ter apanhado em casa. Os meninos mais pobres são os que mais sofrem, cerca de 75% apanham. O estudo conclui que a palmada é a tática punitiva preferida das mães.

Círculo vicioso

Alguns pais que batem sofrem com a ambigüidade dos seus sentimentos, mas pior é a situação dos filhos que apanham. A palmada deixa cicatrizes como baixa auto-estima, agressividade, medo, insegurança e sensação de impotência. A criança experimenta dor, humilhação, tristeza, angústia, ódio, raiva e vergonha. "Toda palmada é um ato violento e a pouca força que os pais acreditam aplicar num tapa nem sempre é a mesma percebida pela criança", diz Longo. Ele ressalta que as seqüelas podem ou não aparecer em conseqüência de aspectos como o equilíbrio do ambiente familiar, a freqüência com que a criança apanha e sua personalidade. É claro que, quando batem em seus filhos, os pais não querem simplesmente humilhá-los. A palmada é dada com a melhor das intenções: educar a criança para que ela conheça seus limites e se torne um adulto responsável. Só que há outras formas de educar.
Os pais também precisam saber que ela pode provocar o efeito inverso: fazer com que a criança perca o respeito por eles. "Principalmente aquela palmadinha que não dói. A criança sente-se castigada mas não chega a ter medo da punição, o que equivale a um passe livre para transgredir", diz a psicóloga infantil Ana Esther Cunha. A palmada pode iniciar uma espiral de violência que conduz os pais às surras e aos espancamentos. "Quando a palmadinha já não surte efeito, a dose da agressão aumenta para intimidar a criança", diz Ana Esther. "A conseqüência é o medo que estimula a criança a mentir", acrescenta a psicóloga Raquel Caruso Whitaker, do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento.

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