Da cultura popular

Trechos do artigo "Um tapinha dói, sim", de Deborah Kanarek. Ilustração Ricardo Dantas

Provérbios como "pé de galinha não machuca os pintinhos" ou expressões do tipo "essa criança está precisando de umas boas palmadas" são repetidas sem nenhum constrangimento no Brasil. Em diversos países ela é proibida por lei, como na Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega, Áustria, Letônia, Croácia, Alemanha no Chipre e em Israel. Aqui, a campanha Palmada Deseduca, do Laboratório de Estudos da Criança da USP, recolheu por enquanto 150.841 assinaturas para uma petição a ser encaminhada ao Congresso Nacional na tentativa de criar uma legislação específica para a palmada. O assunto é polêmico. O método ainda tem defensores, até mesmo na literatura. Das 36 obras publicadas sobre educação familiar entre 1981 e 2000, 28% se posicionam a favor da palmada, apurou o psicólogo Longo em sua pesquisa. Esses posicionamentos têm respaldo na tradição de castigar fisicamente as crianças, trazida ao Brasil no século 16, pelos padres jesuítas, pois os índios não conheciam a palmada. Mas a punição física é antiga. Existem referências dessa forma de educar no Livro de Provérbios, no Velho Testamento e nas civilizações grega e romana.

Pais estressados

Em seu trabalho, Longo listou os principais argumentos utilizados pelos pais que lançam mão da palmada, entre eles, a necessidade de impor respeito com resultados imediatos, a crença de que a criança não tem maturidade de escutar e entender e a tentativa de evitar que ela se torne um adulto autoritário e desagradável. Há os que se acham no direito de bater porque são os provedores da criança. Mas, de acordo com especialistas, os motivos são outros. "Os pais batem porque estão estressados por trabalho, trânsito, problemas financeiros ou pelo acúmulo de problemas com a criança", diz a psicóloga Raquel. "Pais batem porque são inseguros e autoritários", diz a terapeuta familiar Verônica Cezar Ferreira. Para ela, educar dá trabalho e o adulto precisa ser firme e coerente, o que não é sinônimo de braveza nem de rigidez.
As situações que levam à palmada normalmente estão relacionadas a limites. À medida que cresce, uma enorme curiosidade impulsiona a criança a querer descobrir tudo. E os pais, alvos preferidos das experimentações infantis, têm de delimitar as fronteiras. Os especialistas sugerem que façam combinados com o filho. São como contratos, que devem ser acertados antes dos confrontos. Se seu filho teima em criar problemas na hora de vestir-se para a escola, converse antes com ele, explique a importância da pontualidade e decidam em conjunto qual será a punição caso o acordo não seja cumprido. O castigo deve ser sempre compatível com a idade e relacionado à transgressão cometida.

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